quinta-feira, 17 de abril de 2008

Hiroshima

Imagine-se em um dia ensolarado, numa cidade calma, em um dia comum. Você está andando pelas ruas da cidade, e vê pessoas despreocupadas, falando umas com as outras, carregando sacolas, indo ao trabalho ou à escola. Tudo parece normal; mas você sente algo pesado no ar.

Você olha para o céu, tentando entender essa sensação, e tudo o que você vê é um azul plácido, resplandecente, quase sem nuvens. Também sente uma brisa suave, que te passa uma sensação de paz; e você sorri...

Sorri até ver o motivo do peso no ar.

o Vulto de um anjo se forma contra a claridade branca do sol, e você se esforça para divisar as formas negras dele. Algo toma posse de sua alma, e você petrifica onde parou, e todos parecem ter sumido de seu redor.

O anjo da morte continua mergulhando do firmamento; e sua face horrenda invade tuas retinas. Você cai de joelhos, com os olhos marejados de lágrimas, sentindo o fim de tudo galopar em sua direção.

E o Anjo toca o chão...

E com ele se levanta uma nuvem de fogo e destroços, que se espalha, junto com o ódio vindo do coração desse anjo decaído. Também se espalha uma estranha energia, que te engolfa como uma onda; Você sente essa energia te consumindo, atacando cada pedaço, cada átomo do seu ser, destruindo-o e remontando-o grotescamente. Você cai no chão, seus ossos parecem em chamas, sua pele se desfaz no ar, e você ouve ao longe a hedionda gargalhada do anjo.

Não há mais luz, não há mais ar, não há mais dor.
E então, nada.

8 comentários:

blog disse...

Uma boa metáfora narrativa sobre a bomba.
O horror transformando-se em texto quase literário. Mas que vale a leitura.
Conrad fez isso.
E se deu bem.

Valeu.

Anônimo disse...

Nossa que profundo, consegui me imaginar nessa horrivel cena, ate a morte nao parece tao ruim ao sentir essa dor e ver algo desse tipo acontecer na sua frente,

Anônimo disse...

Viva os EUA! EEEEEEEE
Ohhhh, diga,você pode ver, pelas primeiras luzes do amanheceeeeeer
Oooooooo que tão orgulhosamente nos cintila por último ao crepusculo...


Que absurdo!

M. disse...

Belo texto, mas só para ser chata e fazer uma correção, bombas nucleares explodem no ar, não chegam a tocar o chão :)


beijos

__________________
Outro blog da Mary

ED CAVALCANTE disse...

A BOMB LANÇADA EM HIROSHIMA EPLODIU A 800 METROS DO SOLO. MAS, VOLTANDO AO TEXTO. ASSIM COMO VC FEZ, O POETA TCHECO JAROSLAV SEFERT COCLOCOU POESIA NOS HORRORES DA GUERRA NO POEMA "OS MORTOS DE LÍDICE". NO MEU BLOG JORNÁLIA TEM UM POST SOBRE O ASSUNTO. SEU TEXTO FICOU MUITÍSSIMO LEGAL!
ABRAÇO!

Carla M. disse...

vou repetir o que os outros falaram, a bomba não chegou ao chão...

é lindo que você escreveu, mas de certa forma transcende a tragédia.
a maior parte das pessoas nem percebeu até sentir dor.

Thiago Borges disse...

Sansei, não vou repetir o que os outros disseram mas é verdade...

Sobre o texto: muito bem escrito... Nota-se emoção nas suas palavras...

Sobre Hiroshima: leia o livro de mesmo nome, que foi escrito pelo jornalista John Hersey. Literatura impecável.

sobre seus comentários: ahhh, continue acessando... Não sei se você procurou, mas a historia da "Glorinha" é uma série... tem os episódios anteriores.. passa lá depois pra você ver...

Abrass

http://borgesthiago.blogspot.com/

René Coelho disse...

o espírito poético, sempre marcante e presente, torna o escrito, uma arte moldada em uma tragédia e nos remete uma percepção de fatos horrendos , com olhos lúcidos e insanos.

Dane-se esses metros, a arte consome a essência com o realismo irreal xD

uouu viagem detected o/