terça-feira, 31 de julho de 2007

Contato

Uma garoa fina caia enquanto eu tentava chegar o mais rápido possível num local coberto; tarefa que não seria fácil em uma estrada de terra ladeada por milharais baixos.

Teria de me conformar em tomar alguma chuva, até chegar em alguma propriedade, e me amparar numa marquise.

Até que ela apareceu.

Do nada, uma garota carregando um guarda-chuva imenso apareceu, e, sorrindo docemente, oferece amparo contra a chuva.

Aquela garota mostrou-se gentil, e me perguntou uma porção de amenidades, o que eu fazia ali, para onde eu ia, o que eu faria em meu destino. E achava graça em ver que eu me envergonhava um pouco ao falar sobre essas coisas com uma estranha.

Então, ela apenas sorriu e disse que não haveria motivo para me envergonhar, que ela não era mais estranha a partir do momento que começamos a nos falar, e que não teria me acolhido sob o guarda-chuva se eu não fosse confiável. Dito isso eu ruborizei.

Com o tempo, e mais alguma conversa, a chuva passou, e chegamos perto do meu destino. Agradeci a "carona", e ela disse que não carecia de agradecimento. Dito isto, despediu-se, e desapareceu em uma névoa translucida.

domingo, 29 de julho de 2007

A via de Vera

Vera estava trancada em seu quarto há dois dias. Ainda estava com as roupas do momento em que surtara, e, para agravar, ficara desfiando a lapela do blazer e a meia-arrastão durante esse tempo recluso.

Ela não lembrava o porquê de estar alí, parada no mesmo local, em posição fetal, com a maquilagem escorrendo pelas bochechas junto com as lágrimas. Sem se importar com o alito de dois dias, com o celular que marcava várias chamadas não atendidas, com os braços que ameaçavam doer por ficarem tanto tempo abraçando os joelhos, com o cabelo carregado de laquê que começava a desabar sobre o rosto.

Também não conseguia lembrar o que fizera nesse tempo recluso, mas ao menos sabia que era uma coisa que a tirava de sintonia, e a livrava das cargas da vergonha, que a empurraram ao seu retiro no quarto.

Cansada de ficar na mesma posição, resolve se reclinar no chão, mas sem se estirar totalmente; e toca em algo, que gera um tilintado.

Abruptamente, senta-se e começa a esquadrinhar o assoalho, em busca do autor do gorjeio que a tirou da letargia. E por fim o encontra.

Uma garrafa vazia de gim, um copo manchado de batom carmim, e, logo á frente, uma pilha de outras garrafas. Ela via e se dava conta que estava com a vista embotada, e a cabeça que latejava. Sentia-se mal.

Começa a esfregar as têmporas, e a firmar a vista. E as coisas começaram a vir à tona.

Vera ia relembrando com o tempo, todas as cenas que ela viveu até entrar no quarto e começar a entornar as garrafas. A cada memória, um aperto no coração, um nó na garganta.

Não aguentou mais, desatou em choro, sentiu a carga do remorso, chegou ao píncaro da depressão. E decidiu que algo devia ser feito.

Ela levanta-se, cambaleante, e anda apressada até a sacada, tropeçando em seu scarpin. e de lá, descreveu um salto, e um mergulho perpendicular.

As plumas brancas foram pairando no ar, na via onde Vera caminhava ao Firmamento.