terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Visitas Dominicais

Ana Terra vivia sua vida em paz com tudo e todos, curtindo os sons e sabores que a vida lhe dava, sem interferir com a vida de ninguém. E ninguém jamais interferiu na dela, excteo por um fatidico encontro...

Em um domingo de brisas amenas, quando ela despia-se de suas obrigações e se espreguiçava morosamente no sofá de sua sala de estar, a campainha interrompeu a quietude do dia com um soar frenetico e insistente. Com pronunciada preguiça ela se põe de pé e espia pelo olho mágico da porta, vendo do outro lado da porta senhor engomadinho e alinhado, com camisa dentro das calças e gravata, careca escovada e óculos fundo-de garrafa. Ele carregava um volume encadernado em couro, facilmente identificado como uma bíblia, debaixo do braço. Ele pede para entrar; e ela sabia que ele ia falar sobre "o messias" e toda a falácia incomoda usada sempre pelos crentes fanáticos para acossar aqueles que visitam.

Ana deixa-o entrar, fervilhando de ódio pela incômoda interrupção em seu esplêndido domingo. Ela pretendia acabar com tudo rapidamente, já ele parecia disposto a falar por horas.

E assim ele começou sua arenga evangelista, e Ana escutava tudo de cara fechada, apoiada na mesa de jantar, meio de lado. O tomara-que-caia dela escorregou um pouco de seu ombro, revelando uma fina tatuagem...

O incômodo falante silencia-se um momento, arruma com os dedos a coroinha de cabelo que sobrou em volta de sua careca precoce, e perguntou de que se tratava a tatuagem no ombro de Ana. Ela explica que se trata de um ideograma de alguma religião primitiva, um símbolodos deuses antigos pré-cristãos; e instintivamente tampou o desenho com a manga novamente.

Foi o suficiente para dar ignição na furia reacionária fanática religiosa retrograda do incômodo visitante. Ele se pôs a berrar, chamando-a de "mundana", "satânica", acusando-a de heresias e pactos com satã e outras tantas ofensas ridículas. Ela fala para ele se retirar de sua casa, mas ele continua dizendo que coisas a ela, e dizendo que vai purificar o local, banindo-a do convivio das boas almas para sempre.

Ana Terra tinha chegado ao limite. Ana Terra tinha sido tolerante o suficiente. Ana Terra então agiu instintivamente.

Suas mãos se fecharam firmemente em volta do pescoço do crente incômodo, cortando-lhe o ar, e levantando-o até a altura dos olhos dela. E ela o prensou contra a parede.

As mãos se travaram em volta da garganta do inconveniente escorado na parede. Ana admirou a vermelhidão das veias dos olhos aflorar fortemente no rosto dele, e também acompanhou a perda do brilho nos olhos dele, viu as cores sumirem de seu rosto, seus óculos cairem e se partirem. O corpo dele se debatia e esperneava, mas logo sossegou com o passar do tempo no aperto; e logo suas faces arrochearam e seus olhos viraram. Ana Terra deixou o corpo molenga cair no chão, inerte.

E assim, ela nunca mais precisou se levantar e atender visitas indesejadas no domingo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou aqui, Caio, passeando pelo seu blog.
Gostando muito, por sinal.
E claro que não poderia deixar de dizer o quanto me identifiquei com essa história. rs

Até mais. :)

Zanfa disse...

Hahahaha, tudo que todos nossos queriamos fazer com os crentes incomodos, estrangula-los. xD