sábado, 15 de dezembro de 2007

Martinis & Tesouras

Cristina jazia na cama de campanha do quarto de visitas de sua casa. Estava completamente bêbada, desfalecida e esparramada, com uma das mãos arrastando no chão e uma manta torcida em seus pés.

Uma música vagamente épica tocava na sala, onde um velho tocador de LP arranhava um dos seus muitos "bolachões"; e com essa música, uma centelha de lucidez se formou na mente dela ao ouvir tal melodia.

Lá dentro da mente de Cristina, a centelha tentava fazê-la entender o que ocorrera para ela estar ali atirada como um cadáver e aquela música tinha algo à ver com aquele estado.

Cristina estremeceu: a centelha parecia ter formado uma onda em sua mente, e com ela vieram imagens turvas de rostos, formas, cores e alguns sons. Mas tudo logo que chegava, ia-se embora.

Exceto uma...

Um rapaz de rosto agressivo falava-lhe algo que ela não recordava, mas que sabia que a ofendera de algum modo; ele também a tocava na cintura de um modo incômodo, e ela o empurrara com a mão para afastá-lo, derrubando seu drinque na camisa branca dele. Ela sai cambaleando pelo corredor, e ele empurra Cristina para dentro do quartinho onde ela agora estava. Ele tranca a porta, abafando a balburdia da festa, e fazendo qualquer som que fosse produzido no quarto ficar inaudível para o meio externo. Ela exala pânico; ele, ódio, furor e álcool. Ele desafivelava o cinto com as piores intenções; ela se escorava na parede em desespero.

E na parede, Cristina encontra uma tesoura pendurada ao seu alcance. Ele continua avançando de armas em punho. Ela estica o braço, e as lâminas gêmeas acalmam o rapaz com golpes curtos.

Cristina reune seus esforços e energias, e abre os olhos vagarosamente. Ela constata que o vulto do rapaz, com a camisa agora vermelha, jazia imóvel no chão do pequeno cômodo.

Cristina da um muxoxo de desprezo e de sono, e volta a dormir.

5 comentários:

Nilton Flash disse...

Sinistro!!!porem prende a atenção muito bem escrito ,me fez ler os outros posts tambem .Você é bom mesmo .
vlw

Jefferson Barbosa disse...

Que obscuro. ;O

Ninguém disse...

Curto e direto!
Exatamente como textos como esse devem ser!

Gregory Vancher disse...

muito bem desenvolvido! Final, diria até, surpreendente (pelo menos para mim). Muito bom!

Pk Ninguém disse...

Gosto de textos com fins ou partes subentendidas, deixa o grande mistério por conta de quem lê.