Eles se encontraram num café colonial numa cidadezinha européia perdida.
Ele trajava roupas que deixavam a entender que não pertencia a lugar algum, ela se vestia com mochileira, mas tinha sua pátria estampada no casaco leve que trazia a tiracolo.
Ele pediu um espresso e ficou olhando pras fotos branco-e-preto que forravam as paredes de tijolos vermelhos, ela pediu um Martini e ficou brincando com a azeitona empalada no palito de dentes.
E então seus olhares se cruzaram.
Ele sorriu, mas disfarçou logo, não queria deixar muito óbvio o que vira, ela ficou enrubescida, afundou o olhar no martini, com as mãos tremendo de leve, mas não conseguia evitar de levantar o olhar e vislumbrá-lo mais uma vez, só pra enrubescer mais ainda.
Ficaram uns instantes, cada um em sí, alinhando os pensamentos. o silêncio do local vazio ecoava nas paredes vermelhas e ásperas. um suspiro estremeceu no peito de cada um. e ele se levanta e sái.
Ela dá mais um suspiro, alto e desconsolado, e remexe fortemente o Martini com a azeitona empalada, como se estivesse descontando a raiva. de repente ela houve uma lufada de vento que entra quando a porta se abre novamente. era ele.
Ele começa a andar vacilante na direção da mesa dela, e ela começa a enrubescer mais ainda, quase mergulhando na taça que segurava nas mãos, pensando no que iria dizer se ele chegasse e sentasse.
Ele pergunta, com a voz vacilante, se poderia se sentar com ela. ela engrola as palavras por uns instantes, mas controla a gagueira e concede, com um sorriso tímido, mas iluminado, a companhia.
Ele tenta puxar papo, fala de amenidades clichê, do tempo, do charme colonial da cidadela de ruas estreitas e casinhas de tijolo e pedra. ela responde com monossílabos acanhados, mas sem tirar aquele arranjo de dentes brancos e lábios carmim da forma de um sorriso. a conversa flui e ela começa a se soltar um pouco; começam a falar dos motivos de estarem lá.
Ele não tinha passado, ela só tinha arrependimentos.
Mas seus olhos ignoraram o passado, e se fizeram pincéis, pra traçar o presente.
O café é repentinamente é tomado duma luminosidade amarela e de uma música local, permeada de um acordeón choroso. não tinham notado o tempo passar durante a conversa, e agora escureceu lá fora, o café acendeu os lampiões e colocou um velho gramofone pra rodar. eles se entreolharam novamente, agora de perto, e foi a vez dele de sorrir acanhado.
Pôs a mão no paletó que vestia, e de dentro tirou uma camélia, que tinha ido colher num canteiro na rua, e estendeu-a à ela, sorriu de leve e pediu-lhe uma dança.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
2 comentários:
Lindo, romântico e doce!
Adorei!
...
(suspiros)
Alex
Postar um comentário