segunda-feira, 30 de março de 2009

Manicômio (o canto da sereia)

AVISO: o conto demanda um complemento! procurem a faixa "Antarctica" de Emilie Simon, trilha sonora do filme "A Marcha dos Pinguins"


O quarto jazia escuro, e eu encolhido a um canto, não sei quem poderia estar lá. Um cadáver? Ratos, baratas? Não sei, ignoro, não consigo ver no breu que preenche a sala. Tudo que posso perceber acompanhando a escuridão é o rumorejar da minha respiração, estirando a pele macilenta por cima das costelas expostas na cadaveria de meu ser.


Mas uma voz fremente invade suave meus ouvidos, e com ela vez sons difusos, formando uma melodia de compasso estranho. Compasso que perturba o coração que ficou dias esquecido no escuro, e agora palpita descompassado e atônito debaixo dos trapos que visto.


E assim começa a dança catártica da minha insanidade.


Tudo o que via na escuridão, que parecia naquele momento dissolver-se em minhas córneas. Começava eu mesmo a ser escuridão? Não sei, acho que já era escuridão antes mesmo de chegar lá, naquele quarto imundo e escuro, pois ela começou a fluir de meus pulsos e têmporas.


E logo haviam dançarinos a seguir o canto da sereia convulsiva, eles vinham de meu sangue e lágrimas para me assombrar, mas eu via a dança temerária deles em um silêncio maravilhado. Eles fechavam um cerco contra mim, mas eu apenas sorria.


A sereia levantou um arpejo de sua voz, e os dançarinos tremem. Minhas pernas tremem também, e me levanto para me unir aos dançarinos diáfanos, dissolvidos no breu do ar. Eu me tornei um deles, eu me tornei definitivamente escuridão. Eles podem até não ter gostado, mas não há como lutar contra os desígnios da Treva que consome o coração.


A sereia cantou com regozijo pela minha união ao séqüito, desfraldando as notas mais altas de sua lira, e o êxtase parece invadir o microcosmo dentro de cada um. Olhos reviram-se e peitos arfam em um grito mudo. E meu corpo estremece e esfria.

Feneço ali mesmo, no quarto escuro e lúgubre, tal qual meu ser, revestido da treva tristonha. Um mausoléu a altura de meu corpo decrépito.

6 comentários:

Hiou disse...

Hmm, apesar de ser bem depressivo, ._. ficou bom sim. :3 Você escreve bem.^^ uma pergunta, você está se sentindo assim por dentro? .__.

-Cláudinha *-* disse...

aa eu te amoo meu amoor *-*
oow se ta demorando muito pra viirme visitaar viio ;/
Beijoos <3

Nat Valarini disse...

Olá!

Esta é a primeira de muitas visitas que pretendo fazer ao seu blog.

Sim, o texto é sombri, o visual idem, entretanto, acho que escrever bem não se trata de fazer meros contos alegrinhos, mas sim empenhar-se em fazer o melhor!

E vc conseguiu fazer um texto excelente dentro desta atmosfera nua, pesada, escura...

Eu gostei muito do que vi.

Kiso!


.

http://garotapendurada.blogspot.com/

Tânia Mara disse...

Um estilo de blog pouco visto nesse nível. Muito bom, apesar da escuridão, tudo é muito bem feito!

Pequeno Historiador Urbano . disse...

Muito bom o jeito que você escreve, e o texto esta ótimo também; intenso!

www.contando-um-conto.blogspot.com

Hique disse...

Sai da escuridão!

e nem diga que ela que te persegue!